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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Entrevista com o Diac. Narelvi


Nascido em Morretes onde sempre morou, trabalhou e constituiu sua família ao casar com Belisa Amélia de Freitas Malucelli, sendo seus filhos Marcos Flávio Malucelli e Miriane Malucelli Royer, e netos Felipe e Gabriel, Narelvi integra-se na comunidade morretense como filho ilustre que formou-se Técnico em Contabilidade e aos dezoito anos de idade já era professor da disciplina de Contabilidade no Colégio Comercial Prof. Antonio José Gonçalves Filho onde lecionou por trinta anos. Foi Tabelião, Oficial do Registro de Imóveis e Escrivão do Cartório Cível nesta Comarca, tendo se formado em Direito no ano de 1970 quando deixou de ser serventuário para exercer a profissão de advogado que com muita eficiência exerce até hoje, tendo sido contemplado por duas vezes com a homenagem “Os melhores do Paraná” na advocacia com o seu nome incluído no “Pergaminho de Ouro do Paraná” juntamente com outras personalidades do Judiciário, do Executivo e do Legislativo do Estado e outros segmentos da sociedade paranaense. Exerceu também com muito zelo e capacidade o cargo de vereador do nosso município (mais votado naquela eleição) por seis anos dos quais quatro como Presidente da Câmara, e concorreu ao cargo de Prefeito no ano de 1983 obtendo expressiva votação, mas não eleito. Na sociedade civil participou como presidente e/ou membro de diretorias do Clube Literário e Recreativo Sete de Setembro, do Operário F.C., do Iate Clube de Morretes e de outras entidades assistenciais. Como religioso católico, teve a sua vida dedicada à Igreja desde criança como Congregado Mariano, Cursilhista, presidente e membro de Comissões da igreja, Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística, dirigente de Grupo de Jovens, participante ativo de encontros e pastorais paroquiais e diocesanos, ainda como leigo atendeu por mais de dez anos com celebrações de Cultos Católicos em Capelas da Paróquia, incluída a Matriz de N.Sra. do Porto, e foi quem regularizou como advogado o patrimônio da diocese em Morretes e auxiliou nas diversas reformas e manutenção da Igreja Matriz, Casa das Irmãs, e principalmente na restauração da Igreja de São Benedito com ajuda extraordinária da comunidade. A sua conquista mais recente foi ter recebido o Sacramento da Ordem no grau Diáconal da Igreja Católica chegando a exercer a presidência da Comissão Regional de Diáconos do Sul II (Paraná). Pessoa de fácil acesso e atenciosa, enfileira a lista dos nossos entrevistados.
JMN – Ainda nos encontramos sob os efeitos dos resultados da última eleição municipal. Como ex-vereador e político como está vendo a mudança política em nosso município?

Narelvi – Com naturalidade democrática. Porém, não posso deixar de notar uma certa desmotivação à liderança comunitária e até política como conseqüência de ausência de formação cívica e de cidadania pós revolução. Concorrem às eleições pessoas de níveis de formações diferentes, muitos sem condições ou sem os ideais de servir e outros mais preparados que se destacam pelos seus relacionamentos de amizade dentre os quais nove receberam as preferências dos eleitores ocupando os primeiro lugares e foram eleitos. A mudança é sempre esperada como possibilidade de novos avanços. Temos um Legislativo a assumir em janeiro aparentemente melhor no conjunto, quase totalmente renovado a exceção de um vereador reeleito, e um novo Prefeito de quem o povo morretense espera um trabalho tão bom quanto o do atual e dos anteriores e que traz a obrigação de ser até melhor em razão do próprio instinto de superação. Vejo a futura administração com os mesmos olhos do povo: com bastante torcida para que os eleitos sejam capazes de fazer valer a “arte de administrar” cujo objetivo principal é o alcançar o bem comum do povo.

JMN - E o senhor não pensa em retornar mais ativamente à política? Concorrer novamente?

Narelvi – Certamente que a gente sempre pensa, mas pensar e concretizar traz em certos casos uma distância muito grande. Ademais, a Igreja (CNBB) pede que os bispos, presbíteros (padres) e diáconos não participem de política partidária justamente em razão da opção feita pelo Ministério Ordenado. A Igreja estimula e deixa para os leigos essa participação eleitoral, com o que concordo. Como diácono, afasto-me dessa possibilidade, ao menos enquanto eu puder exercer o meu diaconato.

JMN - Conhecemos a sua dedicação à profissão de advogado o que estimulou também sua filha para a advocacia. Como sente esta profissão?

Narelvi – Com muito contentamento. Não como fonte de riqueza, muito limitada aos profissionais do direito em nosso município, mas como uma das formas de servir (e gratuitamente aos pobres) e colaborar com os que buscam os seus direitos, sem precisar tornar-se instrumento de mentiras ou de ofensas, buscando encontrar nos compêndios jurídicos e na consciência cristã a maneira certa de agir processualmente falando. Gosto de ser advogado.

JMN - E sua vida religiosa? O que é ser diácono?

Narelvi – Sou Católico Apostólico e sempre gostei da vida de Igreja. Sou feliz como diácono já há nove anos, e quando celebro Culto, Batismo, Casamento, Exéquias, quando abençôo, prego a Palavra, dirijo retiros ou palestras, sinto-me realizado como servo de Deus.
          Ser diácono significa ser servidor a exemplo de Jesus Cristo. Na história da Igreja Cristã, tudo começou quando Jesus, pessoalmente, escolheu os Apóstolos fazendo-os os primeiros bispos do cristianismo. Logo em seguida os Apóstolos escolheram e ordenaram os diáconos e depois os presbíteros como seus auxiliares. Por isto a Igreja se completa com os bispos, presbíteros e diáconos que formam o clero católico. Está em At 6 a instituição do diaconato.
          Na verdade o diácono sempre existiu na Igreja, sendo que para os casados o Concilio Vaticano II apenas restaurou deixando a critério dos bispos a instituição na sua diocese (infelizmente uma vez que o diaconato permanente é de suma necessidade e importância para a evangelização em todas as paróquias do Brasil, sem exceção). A indicação para o curso de formação se faz através do presbítero da paróquia ou do bispo da diocese. No meu caso foi Dom Alfredo Novack quando bispo de Paranaguá, quem me indicou e apresentou ao Arcebispo de Curitiba para a Ordenação quando lá eu exercia atividade profissional, razão pela qual, depois de Jesus, é ao Dom Alfredo, à minha família e à comunidade católica que devo o meu diaconato.
          Embora continue diácono da Arquidiocese de Curitiba na Paróquia de Nossa Senhora da Salette, com ministério universal como é a Igreja Católica, no momento estou, digamos assim, “licenciado”, enquanto aguardo definição do bispo de Paranaguá sobre um pedido que apresentei solicitando a minha incardinação na Diocese de Paranaguá, ou até que o Espírito Santo me aponte o que devo fazer.

JMN – Por falar em diácono casado, o que diz sobre a polêmica dos padres casados, outra vez retornando aos noticiários?

Narelvi – É a situação do Pe. Osiel, de Goiânia que despertou a polêmica. Para formar um juízo correto seria preciso conhecer melhor as circunstâncias, canonicamente falando.
          Mas posso afirmar que quem recebe o Sacramento da Ordem é para sempre e sem limite de tempo ou território. É irrevogável, irrenunciável. Ainda que um clérigo venha a ser afastado ou impedido de exercer o seu ministério por força canônica que é uma lei humana da igreja e que se aplica mediante um processo formal com direito a defesa e tudo, o mesmo, se desobedecer, estará agindo ilegitimamente ou ilicitamente pelo Código Canônico, mas, teologicamente, entendo que são válidos os Sacramentos e sacramentais ministrados nessas condições.
          Quanto ao padre casar, não tenho nada contra nada tenho contra e o Papa poderá, quando quiser, devolver aos clérigos o direito ao casamento. Mas enquanto a Igreja Romana não mudar, o celibato continuará obrigatório para os seus bispos e presbíteros.
          No inicio do cristianismo os presbíteros e bispos podiam casar. A Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Apostólica Brasileira, por exemplo, (pelas quais tenho respeito e simpatia), na Ortodoxa não permite que o presbítero case mas ordena quem já for casado, e a ICAB ordena homem solteiro ou casado como diácono, presbítero ou bispo.

JMN – Pela sua experiência como professor, advogado e diácono, cite uma das prioridades importantes para a humanidade.

Narelvi – O respeito à vida humana. De tudo o que Deus criou, foi a criação do homem e da mulher que mais O agradou. E quando se fala de vida humana em todos os sentidos, entenda-se primeiramente e principalmente, a vida desde a fecundação até a sua morte natural. Nada de aborto, nada de eutanásia, nada de experiência embrionária, nada de sentença de morte aos anencéfalos, nada que sacrifique o ser humano, mas SIM À VIDA!

JMN – E os jovens nesse redemoinho social, moral, familiar na época atual?

Narelvi – Ah, os jovens! Convivi mais de quarenta anos com eles e ainda convivo com os meus queridos jovens netos. Sempre protelados para o futuro. Só que quem vive esperando o futuro deixa passar em branco o presente. Mas os jovens são realmente importantes! Tanto quanto nós também o fomos na nossa juventude. Importantes na medida em que consigam compreender e aprender no presente com os seus pais e educadores, dentre outros valores, os valores da família, da religião, do respeito, da moral, da seriedade, da responsabilidade, da cidadania, do civismo. Isso tudo e outros que possam ser acrescentados aos seus naturais e potenciais ideais impedirão que a sua formação seja contaminada pela exploração consumista e fantasiosa que destorce e impera no momento e farão dos jovens, aí sim, no futuro deles, brilhantes homens e mulheres das nossas famílias e da nossa nação.

JMN - Que mensagem pode nos deixar?

Narelvi – Mensagem única de Justiça e de Paz. Como estamos em dezembro e os nossos corações se tornam mais sensíveis ao amor e à espiritualidade pelo aniversário de nascimento de Jesus, o meu desejo é que o Natal seja comemorado com verdadeiro espírito cristão deixando-se para um segundo plano a justa confraternização material.
         Que as famílias se unam, perdoem-se, rezem e façam dos seus corações um aconchegante berço de Jesus Cristo. Que os cristãos de todas as crenças procurem o caminho da união e do respeito e que tenhamos um 2009 bastante fecundo. A minha bênção diaconal e um Feliz Natal a todos, em especial aos leitores.
Publicado no jornal JMN, edição de dezembro de 2008

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