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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

2. A IGREJA CATOLICA MUDOU OS MANDAMENDTOS DE DEUS?

 

A Igreja Católica mudou a Bíblia? – Introdução

Site: O Fiel Catolico.

 

https://www.ofielcatolico.com.br/2007/08/a-igreja-catolica-mudou-biblia.html

 

(Reproduzido pelo Dc Narelvi) - (omiti o nome do leitor que fez a pergunta)

 

Concluí, pela Internet, o curso bíblico O Apocalipse de João. No epílogo, Dom José deu ênfase ao fato de não se alterar nada do que foi escrito, citando Dt 4,2; 13,1; Pr 30,6 ; Ecl 3,14. Com a mudança do item referente à guarda do sábado, a Igreja não infringiu as citações acima? Devo dizer que sou católico e não se trata de uma pergunta provocativa, mas elucidativa. Obrigado pela atenção.


Aí está um assunto importante, Antônio, um tema simples e complexo ao mesmo tempo. Simples na essência, mas talvez de complexa explicação. É sempre assim quando se tratam de calúnias, e a pergunta que você faz tem origem em uma calúnia fortemente difundida. Sei bem que você não é um caluniador; ao que me parece, é um católico honesto em busca de conhecimento, fazendo uma pergunta honesta. Mas a dúvida que apresenta certamente deriva –, direta ou indiretamente –, das acusações que nos fazem os protestantes/“evangélicos”. Sobre a questão específica do sábado, já tratamos por aqui, no post que pode ser lido no link abaixo:

– Por que a Igreja guarda o domingo e não o sábado?”


Indo além, entretanto, nós realmente gostaríamos de aproveitar a oportunidade de aprofundar o tema, porque recebemos, igualmente, dúzias de mensagens acusando a Igreja de “mudar a Bíblia”, insistindo que a Bíblia não pode ser mudada e coisas desse tipo. Quero começar dizendo que, quase sempre, é muito mais fácil caluniar do que esclarecer as coisas. Vejamos um exemplo simples e prático desta simples realidade: alguém poderá, mentindo, dizer a uma determinada esposa que o marido dela é infiel no casamento. Pode fazer isso de modo anônimo, como por um telefonema a partir de um aparelho público, por exemplo, ou então pelo envio de um e-mail. Algo muito fácil de fazer. E aquela mulher poderá acreditar ou não na denúncia anônima. Se ela não confia no marido, mesmo que não tenha motivos para tanto, vai perder a paz de espírito. Provavelmente vai armar uma grande confusão, talvez vá esperá-lo chegar em casa pronta para a briga, poderá envolver os filhos e parentes... Uma esposa alucinada seria bem capaz de destruir roupas e pertences do pobre marido e partir para a agressão física, o que, por sua vez, poderia até terminar em tragédia. Tudo por causa de uma calúnia.

 

Mas, se a esposa confia no marido, então não vai dar ouvidos à mentira; vai tentar reagir como pessoa adulta, não vai acusá-lo ou começar uma briga sem lhe dar, ao menos, uma chance de se defender. Vai dar mais importância à palavra do marido do que à de um(a) estranho(a) que faz uma acusação sem provas. Mesmo assim –, e esta é a parte importante dessa história –, é bem provável (talvez quase certo) que ela fique cismada, e passe a desconfiar do marido inocente. Possivelmente passará a prestar mais atenção nos seus hábitos, querer saber por onde ele anda, investigar o celular, visitá-lo inesperadamente no trabalho, segui-lo pelas ruas...

 

Assim são as coisas: é fácil inventar uma calúnia, uma falsa acusação que poderá manchar a honra de um inocente; é muito mais difícil, ao acusado, provar que não tem culpa. Muitas vezes, basta uma acusação falsa para destruir uma carreira profissional, um relacionamento, uma vida. No caso que ora analisamos, tudo é ainda pior, porque a acusação de que a Igreja teria mudado a Bíblia é dita e repetida muitas e muitas vezes, à  exaustão. Em algum momento, essa afirmação falsa, por se tornar comum, acaba penetrando no inconsciente das pessoas. A célebre frase atribuída ao ministro da propaganda nazista, Joseph Goebells, não deixa de ter sua razão de ser: "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade"1.

 

Claro que uma mentira jamais se tornará verdade. Uma mentira será sempre mentira, ainda que o mundo inteiro repita que é verdade, e ainda que quase todos creiam firmemente que seja verdade. Todavia, de tão comum e tão repetida, muitas vezes uma mentira passa a se parecer com verdade.


Ora, nós vivemos agora tempos em que a grande mídia já convence uma parcela importante da população (e cada vez maior) de que é perfeitamente saudável – e até louvável – que uma pessoa não aceite o próprio corpo, o próprio sexo, e queira mudá-lo por meio da ingestão de hormônios, cirurgias radicais e etc. Oficialmente não se pode mais dizer que isso é algum tipo de desvio mental ou psicológico. Uma novela popularíssima, exibida no Brasil e em outros países pela Globo –, a segunda maior rede de TV do mundo –, apresenta uma jovem mulher que diz que não aceita o próprio corpo, que odeia especialmente seus seios, os quais tenta esconder, e chega a espancá-los violentamente. Apesar de não se "sentir" mulher, ela é apaixonada por um rapaz, e a explicação da psicóloga de fantasia é a de que ela seria uma mulher trans-masculina-homo-lésbica – ou alguma coisa parecida com isso. Em outras palavras, ela seria uma homem que nasceu em corpo de mulher(?), mas um homem homossexual(?!).


A primeira reação involuntária é rir, e rir muito. E se você parar e pensar um pouco mais a fundo sobre a situação do nosso mundo, se contemplar a quê as nossas crianças e nossos jovens estão sendo expostos, a reação mais normal é chorar por dentro. Toda a trama da novela, claro, é meticulosamente planejada e montada para que essa personagem apareça como uma pobre vítima da sociedade, uma menina muito simpática, muito boa e compreensiva com todos, mas que não é compreendida, e jamais alguém que apresenta dificuldades (sejam físicas, psicológicas ou psiquiátricas) graves. A uma mulher nessas condições, hoje, simplesmente não se pode sequer sugerir que procure ajuda, porque isso caracterizaria "preconceito" e crime(!). Se algum psicólogo ou psiquiatra disser que pode ajudar um homossexual que queira –, se ele quiser, voluntariamente –, deixar de sê-lo, será impiedosamente perseguido e mesmo criminalizado(!), como aconteceu há pouco tempo com a 
Dra. Rozângela Alves Justino.


Fato no mínimo curioso é que, em nossa sociedade, se um homem diz que "não se aceita" como homem e que "se sente" um cachorro, e passa  a andar de quatro, latir e urinar nos postes, será (ainda) considerado um ser humano que precisa de ajuda, e será certamente encaminhado para a ajuda médica. Mas se ele diz que, apesar de ter nascido homem, "sente-se" como mulher, então isso não pode, de maneira nenhuma, ser considerado algum desvio, mas sim um direito sagrado e idolatrado, contra o qual não se pode dizer absolutamente nada.


A situação é tão complicada e tão grave que já temos até bispo dizendo que um homem se vestir de mulher e tomar hormônios para se parecer com uma delas não é pecado e nem doença, e sim um "dom de Deus"(veja 
aqui e aqui!).


Mas, afinal, se eu uso deste exemplo tão impactante –, o do chamado "gayzismo", que por si já renderia uma série de artigos maiores do que este –, é só para demonstrar que, muitas vezes, de tanto dizer e insistir em alguma coisa, por mais louca e absurda que seja, as pessoas passam a imaginar que seja mesmo real.

 

Assim, em razão da complexidade sempre presente ao se tentar esclarecer questões como as que nos trouxe o leitor Antônio Medeiros (ainda que sejam no fundo muito simples), adotaremos a estratégia mais inteligente e realmente funcional, que é atacar a fera diretamente no coração.

 

 

Uma mentira inventada por fanáticos

 

Dialogar com um “evangélico” fanático é exatamente como seria lutar contra a Hidra de Lerna, se ela existisse. A Hidra é um monstro mitológico terrível, o qual, a cada vez que se lhe decepava uma cabeça, nasciam duas no lugar. Tentar dialogar com pessoas que sofreram uma verdadeira lavagem cerebral contra a Igreja Católica (eu sei do que estou falando, já estive do lado de lá) é tão desesperador quanto enfrentar a Hidra. Quando um deles ataca o uso das imagens sacras, por exemplo, e explicamos porque as usamos, demonstrando o seu fundamento teológico e bíblico, ele então ataca a veneração à Virgem Maria; quando, da mesma forma, explicamos isso também, ele vem com a doutrina do Purgatório; quando esclarecemos essa questão, ele apela para a lorota de Constantino paganizando a Igreja de Cristo2, e por aí vai... E ainda que, por fim, consigamos fechar o círculo e esclarecer com embasamento e razão a todas as suas dúvidas, mesmo assim ele não se conforma, e então retorna novamente à primeira questão já respondida, recomeçando toda a discussão.

 

Sei que é assim, por uma longa experiência de vida e debates com pessoas desse tipo. Como costumo dizer, aos cegos por opção é impossível que recuperem a visão, até que queiram. Enquanto não quiserem ver, não verão, mesmo que a verdade seja balançada bem diante dos seus narizes.


Ataquemos, então, a fera, diretamente no coração, porque tentar cortar cada uma das suas cabeças será impossível: a cada cabeça cortada, crescerão duas no seu lugar. E qual é o coração da fera? Ocorre que o problema todo está em ver a Bíblia Sagrada como uma espécie de entidade própria, dotada de vontade e pensamento independentes; uma entidade que é capaz, sozinha, de nos fornecer todas as respostas infalíveis.


É exatamente assim que os ditos "evangélicos" enxergam a Bíblia: uma espécie de "gênio da lâmpada mágica" capaz de nos dar, instantaneamente, todas as respostas que procuramos. Mais do que isso, eles veem a Bíblia como um tipo de instrumento que obrigaria Deus a comunicar as suas verdades profundas e inefáveis a quem quer que a leia. Entendem que, quando uma pessoa simplesmente diz que "aceita Jesus" e se põe a ler a Bíblia, automaticamente o Espírito Santo irá se manifestar a ela e lhe revelar, infalivelmente, todos os mistérios e profundidades da salvação em Deus. Eles consideram absurda a fé na infalibilidade doutrinal do sucessor de Pedro –, a quem o Senhor Jesus Cristo pessoalmente concedeu autoridade –, mas creem em si mesmos como infalíveis nas suas interpretações (via de regra rasas e literais) da Bíblia.

 

Vou deixar aqui um breve testemunho pessoal. Eu li a Bíblia, pela primeira vez, aos meus 14 anos de idade. Eu era um adolescente típico, descobrindo a vida e cheio de dúvidas e inquietações; minha família atravessava então uma grande crise, que culminou na separação de meus pais, e eu não tinha quem me ouvisse e compreendesse. Buscava a saída em Deus. No começo, passei a ir às Missas, mas eu, que assim como milhões de outros da minha geração, não recebi uma formação cristã adequada, não entendia nada e voltava para casa frustrado. Cometi então um erro clássico (e fundamental): resolvi comprar uma Bíblia, e passei a lê-la como se fosse um livro qualquer, como quem lê um romance (outro erro clássico e fundamental): abri no primeiro capítulo do primeiro livro, o Gênesis, e comecei dali.


Não seria preciso dizer que quase enlouqueci. O Antigo Testamento não é, de modo algum, leitura para crianças e/ou jovens despreparados, nem jamais deveria ser feita por ninguém sem uma boa formação prévia. Esta é a verdade. O leitor desavisado se verá perdido em um pavoroso cenário de carnificinas, mortes violentas, dilapidações, bebês sendo atirado contra rochas, e tudo em nome de um Deus irascível e ditador que "escolhe" um povo para proteger, em detrimento de todos os outros de sua própria criação... E ordena a matança de estrangeiros. "Assim diz o SENHOR dos Exércitos (...): 'Vai e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos, até aos de peito, desde os bois até às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos'" (1Sm 15 2,3).


Tenho certeza de que não é preciso dizer que passagens como esta e muitíssimas outras, semelhantes, precisam de uma séria preparação para serem digeridas e, melhor, situadas em seu devido contexto. Por isso mesmo, a nossa salvação não foi vinculada por Nosso Senhor, em momento algum, à leitura das Escrituras, muito pelo contrário. Cristo diz com todas as letras ao judeus hipócritas: "Vós examinais nas Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna. Mas elas testificam de Mim, e vós não quereis vir a Mim para terdes a vida!" (Jo 5, 39-40). Aqui está nosso Salvador dizendo, explicitamente, que a salvação não vem do exame das Escrituras, e sim do encontro com Ele, e este encontro se dá mediante a adesão à sua Igreja, como também está claro, por exemplo, no episódio da visão de S. Paulo na estrada para Damasco (Atos 22), quando o Senhor lhe diz: "Porque me persegues", identificando-se totalmente à Igreja; referindo-se à Igreja como a Si mesmo.


Retornando ao meu relato, passei da curiosidade ao terror. Todavia, fui presa fácil daquele mysterium terribile et fascinans, isto é, tornei-me como uma folha seca perdida na tempestade da avassaladora sensação de ver-se totalmente incapaz diante de um Poder maior e irresistível, que apavora e desconcerta, faz querer fugir, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, por tremendamente fascinante, prende, cativa e obriga a continuar assistindo. "Ai de mim!", gritou Isaías diante da visão do SENHOR dos Exércitos no Templo, Aquele cujo Nome é impronunciável e de cuja Presença até os anjos, trêmulos, protegiam-se com suas asas. Do mesmo modo eu, compreendendo minha pequenez e total incapacidade.

Sofri, calado e aterrorizado, por anos. Na busca por explicações, e pela incapacidade dos padres adeptos de um malfadado aggiornamento, fui parar nas seitas ditas "evangélicas", onde fui submetido a um pavoroso processo de condicionamento mental. Demorou, mas, por fim, a completa incoerência da doutrina Sola Scritptura tornou-se clara demais para ser ignorada, e eu escapei à armadilha protestante. Essa já é uma outra história, mas posso dizer que, daí  a alcançar a compreensão do contexto e do sentido das muitíssimas passagens realmente difíceis da Bíblia, foram décadas de diligentes estudos.


Posso dizer que a chave de tudo é compreender que a Bíblia sempre foi, é e continua sendo, aquilo que não poderá deixar de ser antes de qualquer outra coisa: um livro. Ainda que este livro contenha a Palavra de Deus por escrito e seja, como de fato é, o Livro Sagrado dos cristãos, permanece sendo um livro e –, assim como todo livro –, para ser compreendido depende da correta interpretação de quem o lê. Por isso mesmo, Nosso Senhor confiou a condução da sua Igreja aos seus Apóstolos, isto é, à sua Igreja, junto da qual prometeu que estaria até o fim do mundo (Mt 28,20), e jamais determinou que o conhecimento da Verdade estaria condicionado a leitura das Escrituras.


Os próprios Evangelhos reconhecem a insuficiência das Escrituras para resumir ou conter a totalidade da experiência Jesus Cristo, ao admitir que, se fossem escritas todas as coisas que fez e disse Jesus, "nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21, 25).


Após este longo preâmbulo, que considerei necessário para a compreensão do que vem a seguir, entremos finalmente no teor da pergunta feita, de maneira objetiva e direta, ponto a ponto:


1) A advertência de que não se pode acrescentar nem retirar nada àquele conteúdo não parte e não se refere à Bíblia como um todo, até porque a Bíblia não é um texto único, e sim um conjunto de textos (nem sempre homogêneos) reunidos; aliás, exatamente por isso chama-se "Bíblia" (=biblioteca; conjunto de livros). A advertência refere-se ao Livro do Apocalipse, o que está claríssimo na própria composição do texto, que diz: "Aqueles que ouvirem as palavras da profecia deste livro (...) e lhes ajuntar ou tirar qualquer coisa..." (Ap 22, 18-19).


Isso tem uma razão de ser bastante evidente: trata-se, obviamente, de literatura apocalíptica, que se caracteriza pela linguagem cifrada, simbólica, metafórica, mística e de difícil compreensão. Este livro, não por acaso, é singular e único em todo o Novo Testamento, que traz geralmente uma linguagem clara e advertências explícitas naquilo que tange ao esclarecimento do que é certo e do que é errado e de qual Caminho os adeptos do Evangelho de Cristo devem seguir. Este é um ponto que não deixa de ser importante, pois para um texto "criptografado", por assim dizer, a alteração de qualquer palavra e de qualquer vírgula poderá comprometer totalmente a compreensão do que está dito.


2) Apesar do exposto, é evidente que os outros livros da Bíblia também não devem ser mudados, se é que cremos que são Palavra de Deus por escrito, e constituem um dos pilares de todo o edifício da fé cristã. Não se pode mudá-los arbitrariamente, e nem mesmo a Igreja poderia fazê-lo, já que foi a própria Igreja que produziu todo o Novo Testamento, que constitui o eixo e a consumação de todas as Escrituras, na pessoa dos santos Apóstolos. Todavia exatamente aqui entra o segundo ponto, pois "mudar" o texto é uma coisa, e esclarecê-lo é outra coisa, não só completamente diferente, como também oposta. Esclarecer determinada realidade não é mudá-la, ao contrário, é afirmá-la e reafirmá-la com embasamento.


Por exemplo, muitos acusadores da Igreja costumam citar o Mandamento que, na Bíblia, proíbe a confecção de imagens, para dizer que "a Igreja Católica mudou os Mandamentos", já que nos Mandamentos de Deus segundo a Igreja Católica esta advertência específica não aparece, como podemos ver logo abaixo.


Mandamentos de Deus segundo a Igreja – 1) Amarás a Deus sobre todas as coisas; 2) Não tomarás o Nome de Deus em vão; 3) Santificarás as festas; 4) Honrarás a teu pai e a tua mãe; 5) Não matarás; 6) Não cometerás atos impuros; 7) Não roubarás; 8) Não dirás falso testemunho nem mentirás; 9) Não consentirás pensamentos nem desejos impuros; 10) Não cobiçarás os bens alheios.

 

Bem, se a Bíblia diz uma coisa, de um jeito, e a Igreja apresenta aquela mesma coisa de um jeito diferente, então a Igreja mudou a coisa, certo? Isto é exato ou não? Se não, como e por quê? Como refutar esse argumento? É o que veremos na segunda e conclusiva parte deste estudo...


________
1. Citado em 'The Sack of Rome', por Alexander Stille; 'A World Without Walls: Freedom, Development, Free Trade and Global Governance', por Mike Moore.

 

A Igreja Católica mudou a Bíblia? – Conclusão

 

https://www.ofielcatolico.com.br/2007/08/a-igreja-catolica-mudou-biblia-conclusao.html

 

 

 

TERMINAMOS A PRIMEIRA parte este estudo levantando a malfadada acusação que sofre a Igreja Católica de ter "mudado" os textos da Bíblia, principalmente com base na alegação de que os Mandamentos de Deus, conforme registrados nas Sagradas Escrituras, são diferentes daqueles que a Igreja nos apresenta. Em especial, cita-se um Mandamento que proibiria a confecção de imagens, que não aparece na versão católica dos Mandamentos de Deus.

Para analisar bem a questão, reproduzimos, logo abaixo, a passagem do Livro do Deuteronômio em que se encontra a lista dos Mandamentos de Deus. Logo a seguir, os Mandamentos de Deus conforme apresentados pela Igreja.



Os Mandamentos de Deus, dados por Moisés ao "povo eleito", conforme consta no Livro do Deuteronômio:


(1) Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque Eu, o SENHOR teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e a quarta geração daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus Mandamentos.
(2) Não pronunciarás em vão o Nome do SENHOR, teu Deus; porque o Senhor não terá por inocente aquele que tiver pronunciado em vão o seu Nome.
(3) Guardarás o dia do sábado e o santificarás, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras; mas no sétimo dia, que é o repouso do SENHOR teu Deus, não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu boi, nem teu jumento, nem teus animais, nem o estrangeiro que vive dentro de teus muros, para que o teu escravo e a tua serva descansem como tu. Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a Mão forte e o Braço poderoso do teu SENHOR te tirou. É por isso que o SENHOR, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado.
(4) Honra teu pai e tua mãe, como te mandou o SENHOR, para que se prolonguem teus dias e prosperes na terra que te deu o Senhor teu Deus.
(5) Não matarás.

(6) Não cometerás adultério.

(7) Não furtarás.

(8) Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.

(9) Não cobiçarás a mulher de teu próximo.

(10) Não cobiçarás sua casa, nem seu campo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence."

(Deuteronômio 5,7-21)



Os Mandamentos de Deus segundo a Igreja:


1) Amarás a Deus sobre todas as coisas;
2) Não tomarás o Nome de Deus em vão;
3) Santificarás as festas;
4) Honrarás a teu pai e a tua mãe;
5) Não matarás;
6) Não cometerás atos impuros;
7) Não roubarás;
8) Não dirás falso testemunho nem mentirás;
9) Não consentirás pensamentos nem desejos impuros;
10) Não cobiçarás os bens alheios.



Bem, a lógica rasa das novas comunidades protestantes ditas "evangélicas" (pentecostais e neopentecostais) diz o seguinte: se a Bíblia diz uma coisa, de um jeito, e a Igreja Católica apresenta aquela mesma coisa de um jeito diferente, então a Igreja mudou a coisa. Certo? 

 

Errado. Muito errado; erradíssimo. Falando com total honestidade, vejo que se qualquer pessoa racional simplesmente confrontar as duas listas acima verá que contém exatamente as mesmas prescrições divinas, sendo que a segunda é apenas e tão somente a lista sintetizada, resumida e desvinculada do contexto judaico e das citações exclusivamente históricas. Nesse sentido, por exemplo, não teria cabimento que, para transmitir a Palavra de Deus aos povos do mundo dos nossos tempos, a Igreja prescrevesse, literalmente: "Não cobiçar o escravo e nem a escrava do teu próximo", ou "não cobiçar o boi nem o jumento do teu próximo". Claro e evidente que isso não teria mais sentido, hoje. Por isso, a Igreja apresenta o Mandamento dado por Deus da maneira mais simples, direta e, principalmente, compreensível para todos, dizendo: "Não cobiçarás os bens alheios".

 

Hoje em dia, já não possuímos escravos, aliás a prática da escravidão é crime em todo o mundo civilizado; a imensa maioria de nós também já não possui bois e jumentos; entretanto, tanto o terceiro quanto o décimo Mandamentos mencionam escravos, bois e jumentos. Teriam ficado, então, os Mandamentos Divinos desatualizados, na prática? Não. Basta compreender o sentido e a essência do Mandamento, desvinculando o que está escrito literalmente do verniz epocal e cultural. É o que faz a Igreja, e é este o seu papel legítimo, como veremos mais adiante.

 

Do mesmíssimo modo se dá com relação a famigerada disputa envolvendo as imagens sacras. Basta observar o Primeiro Mandamento como um todo para ver que o fulcro e o cerne daquela proibição está na exclusividade que devemos dar ao Deus Vivo e Verdadeiro em nossa vida de fé, devoção e prática. O Mandamento menciona a idolatria prestada aos falsos deuses pagãos, que no imaginário daquele povo "concorriam" com YHWH por adoração e culto. A menção às imagens é claramente um complemento a essa Ordem divina central, que é amar a Deus sobre todas as coisas, como será confirmado com toda a clareza no mesmo Livro da Bíblia, logo adiante, no capítulo seguinte: "Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e com todas as tuas forças" (Dt 6,5).


Vemos, assim, que a Igreja não "mudou" o Primeiro Mandamento, e sim optou pela sua forma resumida, conforme é apresentada pelo mesmo Livro da Bíblia, o Deuteronômio. Também e principalmente, a razão de a Igreja ter resumido o Primeiro Mandamento é o fato de tê-lo feito o próprio Jesus Cristo, Filho de Deus e Deus: 

Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro Mandamento.

Jesus Cristo (Mt 22, 37-40)

 

Não pode haver autoridade maior que a de Jesus Cristo para definir qual é o Primeiro Mandamento; e, sim, Ele fez isto.


Outro ponto fundamental para entender a questão é observar que as contestações surgem, simplesmente, por causa de separações diferentes do texto. Muitos leigos não sabem, por exemplo, que os textos originais da Bíblia são corridos, não foram produzidos divididos em versículos, da maneira como conhecemos hoje. Na realidade, os manuscritos originais não eram separados nem mesmo entre palavras, dada a conjuntura dos seus idiomas e da sua grafia própria; não havia sequer vogais ou sinais de pontuação, e nem títulos e subtítulos para ajudar a localizar passagens específicas.


A necessidade de dividir o texto sagrado em partes surgiu para facilitar o encontro de determinadas doutrinas, independentemente de qual fosse a edição, em cada Livro da Bíblia, e também para organizar as leituras litúrgicas. Durante o correr dos séculos, houve diversos sistemas de organização dos textos sagrados, tanto judeus, para o nosso AT ('Sedarim''Perashiyyot''Pesuquim') como cristãos ('Cánones eusabiani', de Eusébio de Cesareia), para dividir os textos em seções1.


Assim, os Mandamentos de Deus, na Bíblia, não se encontram divididos nem numerados. Há apenas um texto corrido que contém os Mandamentos, mas não se diz ali algo como "a partir daqui começa o primeiro Mandamento" ou "aqui termina o primeiro e começa o segundo Mandamento". Cabe à Igreja defini-lo, e a Igreja de Cristo desde sempre entendeu que o primeiro Mandamento começa com a advertência contra os falsos deuses e termina com o aviso de castigo para os que não observarem a adoração exclusiva a YHWH, isto é, o conjunto dos atuais versículos de 7 a 10. De fato, basta analisar o a passagem com o mínimo de imparcialidade para se notar que isso faz todo o sentido, pois tudo o que se diz aí converge numa única chamada a adorar exclusivamente ao Deus Vivo e Verdadeiro, descartando todo culto de adoração aos ídolos pagãos. Não são dois Mandamentos, como: 1) Não ter outros deuses diante do SENHOR e 2) Não fazer imagens desses outros deuses. Ao contrário, trata-se de uma única afirmativa, que fica claríssima no início da fala: "Não terás outros deuses diante de Mim...": o que vem na imediata sequência é a inevitável consequência desta advertência.

Só há um Deus; logo e por consequência, não se pode fazer imagens para adoração de outros (falsos) deuses. Por isso mesmo é que a proibição ao uso de imagens não se aplica a toda e qualquer imagem, nem mesmo às imagens cultuais, e Deus mesmo vai ordenar que se façam imagens para uso no seu culto, logo adiante, na mesma Bíblia (entenda). Óbvio, não?


Entretanto, partindo do livre exame das Escrituras, poderíamos dividir esse mesmo trecho (versículos 7 a 10) em até mais partes. Poderíamos dizer, por exemplo, que não adorar falsos deuses é um mandamento, não fazer imagens é outro, não prostrar-se diante dessas imagens é um outro mandamento e não lhes render culto (o que é diferente de apenas prostrar-se) seria um quarto mandamento. Como já vimos exaustivamente por aqui, a partir do livre exame e interpretação do texto, pessoas diferentes podem usar da sua imaginação (e, em muitos casos, de má vontade) para elaborar as mais diversas (e estapafúrdias) interpretações. Mais uma vez, fica clara a razão de nossa salvação não ter sido condicionada ao livre exame das Escrituras.


Assim, a partir das divisões do Texto Sagrado, passaram os protestantes a dividir também os Mandamentos de modo diverso do dos católicos, fazendo sempre muita questão de enfatizar o problema imaginário das imagens. Este erro crasso é tão evidente que, recentemente, até mesmo a igreja luterana alemã (a entidade protestante mais antiga) pediu desculpas públicas aos católicos pela destruição das imagens sacras (e outros atos criminosos) durante a chamada Reforma. Em nota oficial, disseram que hoje reconhecem que as imagens sagradas, "em suas mais variadas formas", têm "grande valor como expressão da espiritualidade" – logo, nada tem a ver com "idolatria". Declararam, ainda, que a igreja protestante alemã “se opõe à destruição de imagens” (
saiba mais).


Uma atitude louvável. Entretanto, lamentavelmente, a desgraça foi feita pelo seu fundador há cinco séculos: hoje em dia, como consequência do seu ato de orgulho, não cessam de se multiplicar as seitas que se proclamam "cristãs" e "bíblicas", e todos os dias temos notícias de malucos invadindo igrejas católicas para destruir imagens sacras.


Voltando ao nosso tema central, vemos com muita clareza que os Mandamentos de Deus não foram, de modo algum, "mudados" pela Igreja, mas apenas e simplesmente traduzidos em linguagem acessível e explicados à grande multidão de fiéis que buscam compreender as coisas da fé. Mudar a Bíblia? Evidente que não. Esclarecer a Bíblia, sem alterá-la, isto sim, e para isto a Igreja tem, além de plena autoridade, o dever de fazê-lo, dado pelo Cristo, conforme autenticado pelas próprias Escrituras.

 

Ou acaso não foi Cristo quem deu poderes à sua Igreja a fim de estabelecer os meios para a salvação da humanidade? Ele não o disse, mais de uma vez, aos seus Apóstolos, isto é, à sua Igreja nascente?

 

Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou.

Jesus Cristo (Lc 10,16)


Em verdade, tudo o que ligardes sobre a Terra, será ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra, será também desligado no Céu.
Jesus Cristo (Mt 18,18)

 

O Senhor falava aos Apóstolos, que eram a Igreja no seu primeiro início. Logo, é fato bíblico que a Igreja também legisla, com o Poder de Cristo, e foi designada como fiel depositária da Sã Doutrina. Quem não a obedece, desobedece a Cristo, logo, desobedece a Deus Pai. Mais tarde, vai S. Paulo Apóstolo confirmar este fato insofismável em sua Primeira Carta a Timóteo, ao dizer com todas as letras:

 

Escrevo (no caso, a própria Bíblia, inspirado pelo Espírito Santo) para que saibas como te portar na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o sustentáculo da Verdade.

(1Tm 3,15)

 

Por fim, apenas para arrematar a questão, cabe lembrar que, antes de tudo, se a Igreja tivesse mesmo a intenção de mudar os Mandamentos, seria para ela muito fácil, já que, por muitos séculos, as cópias das Sagradas Escrituras estiveram encerradas sob a guarda da própria Igreja, e apenas o clero tinha acesso direto a elas. Seria coisa muito simples para qualquer Papa ordenar a alteração definitiva da letra, em certos pontos estratégicos, por exemplo, com a desculpa de que seria para o bem das almas. Mas isso jamais aconteceu. Pelo contrário, quem fez isso foi exatamente Lutero, patrono e fundador de todas as "igrejas" cujos seguidores nos acusam.


Martinho Lutero resolveu proceder à sua própria tradução particular da Bíblia, e – um fato que incrivelmente pouco se divulga e praticamente não se menciona – simplesmente adulterou a passagem da Epístola aos Romanos (1,17), onde se lê que “o justo viverá pela fé”. Acrescentou ali a palavra “allein”, que no alemão significa “somente”, e passou a pregar, assim como pregam todos os pastores protestantes/'evangélicos' até hoje, que o justo “vive somente pela fé” (a doutrina Sola Fide, que ao lado do Sola Scriptura/Só a Bíblia, constitui a dupla de super dogmas protestantes). Ainda que não fosse necessário, porque dispomos da prova material, o próprio Lutero confirmou a adulteração, quando disse aos seus seguidores: “Se um papista lhe questionar sobre a palavra ‘somente’, diga-lhe isto: papistas e excrementos são a mesma coisa. Quem não aceitar a minha tradução, que se vá. O demônio agradecerá por esta censura sem a minha permissão”3.


Como se vê, o fundador do protestantismo estava anos-luz distante daquele personagem humilde e heroico retratado em um famoso filme supostamente "biográfico" sobre sua vida: ele era orgulhoso, vaidoso e mantinha uma atitude extremamente arrogante. Aqueles que nos acusam de adulteração, porém, seguem e observam as mesmas Escrituras que foram organizadas, divididas e canonizadas pela Igreja Católica. Suprema contradição, acham que a Igreja não é inspirada pelo Espírito Santo para guardar a fé cristã, mas creem que a mesma Igreja foi inspirada pelo Espírito Santo para definir o cânon da Bíblia. E – é importante que você, fiel católico, saiba disso – àqueles que dizem que a Igreja se "paganizou" depois de Constantino (274-337), convém lembrar que o cânon das Escrituras foi definido somente após o século IV, bem depois da aceitação do Cristianismo pelo Império Romano.



* * *


A Igreja é o Corpo de Cristo, portanto continuidade histórica do Cristo no mundo; é a coluna e o sustentáculo da Verdade; a ela foi dada autoridade para proclamar o Evangelho às nações, e para tanto é preciso esclarecê-lo aos povos diversos. Não estamos mais engessados à letra escrita, como no tempo da Lei, mas somos membros muito amados de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para isso, temos a Santa Igreja, nossa Mãe e Mestra.

 

Ele nos capacitou (à Igreja) a sermos ministros de uma nova Aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas esse ministério veio com tal glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés por causa do resplendor do seu rosto, ainda que desvanecente. Não será o Ministério do Espírito ainda muito mais glorioso? Se era glorioso o ministério que trouxe condenação, quanto mais glorioso será o Ministério que produz Justiça!  (2Cor 3,6-9)

 

 

 

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1. Estêvão Langton, arcebispo da Cantuária, que havia sido chanceler da Universidade de Paris, fez a divisão do Antigo e do Novo Testamentos em capítulos, a partir do texto latino da Vulgata de São Jerônimo, por volta do ano 1226. Da Vulgata, passou ao texto da Bíblia hebraica, ao texto grego do Novo Testamento e à versão grega do Antigo Testamento. Ele estabeleceu uma divisão em capítulos, mais ou menos iguais, muito similar à que temos em nossas Bíblias impressas. Esta divisão se tornou universal.

 

Divisão em versículos – São Pagnino (1541), judeu convertido, depois dominicano, originário de Luca (Itália), dedicou 25 anos à sua tradução da Bíblia, publicada em 1527, e foi o primeiro em dividir o texto em versículos numerados.
Esta versão foi impressa em Lion. Era uma versão muito literal que constituiu um ponto de referência entre os humanistas da época, e foi reimpressa várias vezes. Roberto Estienne, prestigioso impressor, realizou a divisão atual do Novo Testamento em versículos em 1551. Em 1555, fez a edição latina de toda a Bíblia. Para os versículos do Antigo Testamento hebraico, ele utilizou a divisão feita por São Pagnino. Para os demais livros do Antigo Testamento, elaborou uma própria e utilizou para o Novo Testamento a que, poucos anos antes, ele mesmo havia realizado.
O recurso de dividir o texto bíblico em capítulos e versículos numerados permite, desde então, encontrar imediatamente uma passagem, seja qual for a paginação adotada por uma edição. Esta é uma ferramenta fundamental para os pesquisadores, e para que todos possam ter uma mesma referência. 

Bíblia impressa com capítulos e versículos – A primeira Bíblia impressa que incluiu totalmente a divisão de capítulos e versículos foi a chamada Bíblia de Genebra, publicada em 1560, na Suíça.

Os editores da Bíblia de Genebra optaram pelos capítulos de Stephen Langton, e versículos de Robert Estienne, conscientes da grande utilidade que teriam para a memorização, localização e comparação de passagens bíblicas. Em 1592, o Papa Clemente VII mandou publicar uma nova versão da Bíblia em latim, para uso oficial da Igreja Católica, e nela se incluiu a divisão atual de capítulos e versículos. Assim, no final do século XVI, os judeus, protestantes e católicos haviam aceitado a divisão em capítulos introduzida por Stephen Langton, e a subdivisão em versículos introduzida por Robert Estienne. Desde então, estas divisões em capítulos e versículos ganharam aceitação como uma forma padronizada para localizar os versículos da Bíblia, e até hoje são aceitas universalmente.
(DUARTE, Luiz Miguel; BEDOR, João Paulo. Formação para Leitores e Ministros da Palavra. São Paulo: Paulus, 2017, pp.11ss / Eq. Editorial Ave-Maria. Chave bíblica católica: edição revista e ampliada, São Paulo: Ave-Maria, 2012; )


2. Existia a Igreja Católica há mais de um e meio milênio quando surgiu a primeira comunidade protestante. Foi chamada 'protestante', inicialmente, devido ao protesto de seis príncipes luteranos e 14 cidades alemãs (19 de abril de 1529), quando a chamada 'segunda dieta (assembleia) de Speyer', convocada pelo imperador Carlos V, revogou uma autorização concedida três anos antes para que cada príncipe determinasse a religião do seu território. O termo protestante foi rapidamente adotado, inclusive pelos partidários de Lutero, e logo transcendeu a questão local e epocal para definir, genericamente, o grupo que rejeitava a autoridade do Sucessor de Pedro, justamente porque protestavam contra a autoridade e a doutrina da primeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.


3. Conf. 'The Facts About Luther', O’Hare, TAN Books, 1987, p. 201; Imperial Encyclopedia and Dictionary © 1904, vol. 4, Hanry G. Allen & Company, Holman Bible Dictionary © 1991; Amic. Discussion, 1, 127.


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Fontes e ref. Bibliográfica

• ORDOVÁS, Javier. Quem dividiu a Bíblia em capítulos e versículos?, Aleteia, disp. em :

https://pt.aleteia.org/2016/03/14/quem-dividiu-a-biblia-em-capitulos-e-versiculos/
Acesso 17/8/017

• FOCANT, Camile & diversos autores. Bíblia e História, Escritura, interpretação e ação no tempo. São Paulo: Loyola, 2006.

 

 

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