A IGREJA É UNA, SANTA, CATÓLICA E APOSTÓLICA
811. «Esta é a única Igreja de Cristo,
que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica» (263). Estes
quatro atributos, inseparavelmente ligados entre si (264) indicam traços
essenciais da Igreja e da sua missão. A Igreja não os confere a si mesma; é Cristo
que, pelo Espírito Santo, concede à sua Igreja que seja una, santa, católica e
apostólica, e é ainda Ele que a chama a realizar cada uma destas qualidades.
812. Só a fé pode reconhecer que a
Igreja recebe estas propriedades da sua fonte divina. Mas as manifestações
históricas das mesmas são sinais que também falam claro à razão humana. «A
Igreja, lembra o I Concílio do Vaticano, em razão da sua santidade, da sua
unidade católica, da sua invicta constância, é, por si mesma, um grande e
perpétuo motivo de credibilidade e uma prova incontestável da sua missão
divina» (265).
I. A Igreja é una
«O SAGRADO MISTÉRIO DA UNIDADE DA
IGREJA» (266)
813. A Igreja é una, graças à sua fonte: «O supremo modelo e princípio deste mistério é a unidade na
Trindade das pessoas, dum só Deus, Pai e Filho no Espírito Santo» (267). A Igreja
é una graças ao seu fundador: «O próprio Filho encarnado [...] reconciliou
todos os homens com Deus pela sua Cruz, restabelecendo a unidade de todos num
só povo e num só Corpo» (268). A Igreja é una graças à sua «alma»: «O
Espírito Santo que habita nos crentes e que enche e rege toda a Igreja, realiza
esta admirável comunhão dos fiéis e une-os todos tão intimamente em Cristo que
é o princípio da unidade da Igreja» (269). Pertence, pois, à própria essência
da Igreja que ela seja una:
«Que admirável mistério! Há um só
Pai do universo, um só Logos do universo e também um só Espírito Santo,
idêntico em toda a parte; e há também uma só mãe Virgem, à qual me apraz chamar
Igreja» (270).
814. Desde a origem, no entanto, esta
Igreja apresenta-se com uma grande diversidade, proveniente ao mesmo
tempo da variedade dos dons de Deus e da multiplicidade das pessoas que os
recebem. Na unidade do povo de Deus, juntam-se as diversidades dos povos e das
culturas. Entre os membros da Igreja existe uma diversidade de dons, de cargos,
de condições e de modos de vida. «No seio da comunhão da Igreja existem
legitimamente Igrejas particulares, que gozam das suas tradições próprias»
(271). A grande riqueza desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja. No
entanto, o pecado e o peso das suas consequências ameaçam constantemente o dom
da unidade. Também o Apóstolo se viu na necessidade de exortar a que se
guardasse «a unidade do Espírito pelo vínculo da paz» (Ef 4, 3).
815. Quais são os vínculos da unidade?
«Acima de tudo, a caridade, que é o vínculo da perfeição» (Cl 3, 14).
Mas a unidade da Igreja peregrina é assegurada também por laços visíveis de
comunhão:
– a profissão duma só fé, recebida
dos Apóstolos;
– a celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos;
– a sucessão apostólica pelo sacramento da Ordem, que mantém a concórdia fraterna da família de Deus (272).
– a celebração comum do culto divino, sobretudo dos sacramentos;
– a sucessão apostólica pelo sacramento da Ordem, que mantém a concórdia fraterna da família de Deus (272).
816. «A única Igreja de Cristo [...] é
aquela que o nosso Salvador, depois da ressurreição, entregou a Pedro, com o
encargo de a apascentar, confiando também a ele e aos outros apóstolos a sua
difusão e governo [...]. Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como
uma sociedade, subsiste (subsistit in) na Igreja Católica, governada
pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele» (273).
O decreto do II Concílio do Vaticano
sobre o Ecumenismo explicita: «Com efeito, só pela Igreja Católica de Cristo,
que é "meio geral de salvação", é que se pode obter toda a plenitude
dos meios de salvação. Na verdade, foi apenas ao colégio apostólico, de que
Pedro é o chefe, que, segundo a nossa fé, o Senhor confiou todas as riquezas da
nova Aliança, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é
necessário que sejam plenamente incorporados todos os que, de certo modo,
pertencem já ao povo de Deus» (274).
817. De facto, «nesta Igreja de Deus una
e única, já desde os primórdios surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura
asperamente como condenáveis. Nos séculos posteriores, porém, surgiram
dissensões mais amplas. Importantes comunidades separaram-se da plena comunhão
da Igreja Católica, às vezes por culpa dos homens duma e doutra parte» (275).
As rupturas que ferem a unidade do Corpo de Cristo (a saber: a heresia, a
apostasia e o cisma) (276) devem-se aos pecados dos homens:
«Ubi peccata, ibi est multitudo, ibi
schismata, ibi haereses, ibi discussiones. Ubi autem virtus, ibi singularitas,
ibi unio, ex quo omnium credentium erat cor unum et anima una — Onde há pecados, aí se encontra a multiplicidade, o cisma, a heresia, o
conflito. Mas onde há virtude, aí se encontra a unicidade e aquela união que
faz com que todos os crentes tenham um só coração e uma só alma» (277).
818. Os que hoje nascem em comunidades
provenientes de tais rupturas, «e que vivem a fé de Cristo, não podem ser
acusados do pecado da divisão. A Igreja Católica abraça-os com respeito e
caridade fraterna [...]. Justificados pela fé recebida no Baptismo,
incorporados em Cristo, é a justo título que se honram com o nome de cristãos e
os filhos da Igreja Católica reconhecem-nos legitimamente como irmãos no
Senhor» (278).
819. Além disso, existem fora das
fronteiras visíveis da Igreja Católica, «muitos elementos de santificação e de
verdade» (279): «a Palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança
e a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos
visíveis» (280). O Espírito de Cristo serve-Se destas Igrejas e comunidades
eclesiais como meios de salvação, cuja força vem da plenitude da graça e da
verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos estes bens provêm de Cristo
e a Ele conduzem (281) e por si mesmos reclamam «a unidade católica» (282).
A CAMINHO DA UNIDADE
820. A unidade, «Cristo a concedeu à sua Igreja desde o princípio. Nós cremos
que ela subsiste, sem possibilidade de ser perdida, na Igreja Católica, e
esperamos que cresça de dia para dia até à consumação dos séculos» (283).
Cristo dá sempre à sua Igreja o dom da unidade. Mas a Igreja deve orar e
trabalhar constantemente para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que
Cristo quer para ela. Foi por esta intenção que Jesus orou na hora da sua
paixão e não cessa de orar ao Pai pela unidade dos seus discípulos: «...Que
todos sejam um. Como Tu, ó Pai, és um em Mim e Eu em Ti, assim também eles
sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste» (Jo 17, 21).
O desejo de recuperar a unidade de todos os cristãos é um dom de Cristo e um
apelo do Espírito Santo (284).
821. Para lhe corresponder de modo
adequado, exige-se:
– uma renovação permanente da Igreja, numa maior fidelidade à sua
vocação. Essa renovação é a força do movimento a favor da unidade (285);
– a conversão do coração, «com o fim levar uma vida mais pura
segundo o Evangelho» (286), pois o que causa as divisões é a infidelidade dos
membros ao dom de Cristo;
– a oração em comum, porque «a conversão do coração e a santidade de vida. unidas às orações, públicas e privadas, pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como a alma de todo o movimento ecuménico, e com razão podem chamar-se ecumenismo espiritual» (287);
– a oração em comum, porque «a conversão do coração e a santidade de vida. unidas às orações, públicas e privadas, pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como a alma de todo o movimento ecuménico, e com razão podem chamar-se ecumenismo espiritual» (287);
– o mútuo conhecimento fraterno (288);
– a formação ecuménica dos fiéis, e especialmente dos sacerdotes
(289);
– o diálogo entre os teólogos, e os encontros entre os cristãos das diferentes Igrejas e comunidades (290);
– o diálogo entre os teólogos, e os encontros entre os cristãos das diferentes Igrejas e comunidades (290);
– a colaboração entre cristãos nos diversos domínios do serviço
dos homens »(291).
822. A preocupação com realizar a união
«diz respeito a toda a Igreja, fiéis e pastores» (292). Mas também se deve «ter
consciência de que este projecto sagrado da reconciliação de todos os cristãos
na unidade duma só e única Igreja de Cristo, ultrapassa as forças e capacidades
humanas». Por isso, pomos toda a nossa esperança «na oração de Cristo pela
Igreja, no amor do Pai para conosco e no poder do Espírito Santo» (293).
II. A Igreja é santa
823. «A Igreja é [...], aos olhos da fé,
indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é proclamado «o
único Santo», com o Pai e o Espírito, amou a Igreja como sua esposa,
entregou-Se por ela para a santificar, uniu-a a Si como seu Corpo e cumulou-a
com o dom do Espírito Santo para glória de Deus» (294). A Igreja é, pois, «o
povo santo de Deus» (295), e os seus membros são chamados «santos» (296).
824. A Igreja, unida a Cristo, é santificada por Ele. Por Ele e n'Ele toma-se
também santificante. «Todas as obras da Igreja tendem, como seu fim,
(297) para a santificação dos homens em Cristo e para a glorificação de
Deus». É na Igreja que se encontra «a plenitude dos meios de salvação» (298). É
nela que «nós adquirimos a santidade pela graça de Deus» (299).
825. «Na terra, a Igreja está revestida
duma verdadeira, ainda que imperfeita, santidade» (300). Nos seus membros, a
santidade perfeita é ainda algo a adquirir: «Munidos de tantos e tão grandes
meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são
chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um pelo seu caminho» (301).
826. A caridade é a alma da santidade à
qual todos são chamados: «É ela que dirige todos os meios de santificação, lhes
dá alma e os conduz ao seu fim»(302):
«Compreendi que, se a Igreja tinha
um corpo composto de diferentes membros, o mais necessário, o mais nobre de
todos não lhe faltava: compreendi que a igreja tinha um coração, e que
esse coração estava ardendo de amor. Compreendi que só o Amor fazia
agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já
não anunciariam o Evangelho, os mártires recusar-se-iam a derramar o seu
sangue... Compreendi que o Amor encerra todas as vocações, que o Amor é
tudo, que abarca todos os tempos e lugares ... numa palavra, que ele é Eterno»
(303).
827. «Enquanto que Cristo, santo e
inocente, sem mancha, não conheceu o pecado, mas veio somente expiar os pecados
do povo, a Igreja, que no seu próprio seio encerra pecadores, é simultaneamente
santa e chamada a purificar-se, prosseguindo constantemente no seu esforço de
penitência e renovação» (304). Todos os membros da Igreja, inclusive os seus
ministros, devem reconhecer-se pecadores (305). Em todos eles, o joio do pecado
encontra-se ainda misturado com a boa semente do Evangelho até ao fim dos
tempos (306). A Igreja reúne, pois, em si, pecadores abrangidos pela salvação
de Cristo, mas ainda a caminho da santificação:
A Igreja «é santa, não obstante
compreender no seu seio pecadores, porque ela não possui em si outra vida senão
a da graça: é vivendo da sua vida que os seus membros se santificam; e é
subtraindo-se à sua vida que eles caem em pecado e nas desordens que impedem a
irradiação da sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por
estas faltas, tendo o poder de curar delas os seus filhos, pelo Sangue de
Cristo e pelo dom do Espírito Santo» (307).
828. Ao canonizar certos fiéis,
isto é, ao proclamar solenemente que esses fiéis praticaram heroicamente as
virtudes e viveram na fidelidade à graça de Deus, a Igreja reconhece o poder do
Espírito de santidade que está nela, e ampara a esperança dos fiéis,
propondo-lhes os santos como modelos e intercessores (308). «Os santos e
santas foram sempre fonte e origem de renovação nos momentos mais difíceis da
história da Igreja (309)». «A santidade é a fonte secreta e o padrão infalível
da sua actividade apostólica e do seu dinamismo missionário» (310).
829. «Na pessoa da Santíssima Virgem, a
Igreja alcançou já aquela perfeição, sem mancha nem ruga, que lhe é própria.
Mas os fiéis de Cristo têm ainda de trabalhar para crescer em santidade,
vencendo o pecado. Por isso, levantam os olhos para Maria»(311): nela, a Igreja
é já plenamente santa.
III. A Igreja é católica
QUE QUER DIZER «CATÓLICA»?
830. A palavra «católico» significa «universal» no sentido de «segundo a
totalidade» ou «segundo a integridade». A Igreja é católica num duplo sentido:
É católica porque Cristo está
presente nela: «onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica» (312). Nela
subsiste a plenitude do Corpo de Cristo unido à sua Cabeça (313), o que implica
que ela receba d'Ele a «plenitude dos meios de salvação» (314) que Ele quis:
confissão de fé recta e completa, vida sacramental integral e ministério
ordenado na sucessão apostólica. Neste sentido fundamental, a Igreja era
católica no dia de Pentecostes (315) e sê-lo-á sempre até ao dia da Parusia.
831. É católica, porque Cristo a enviou
em missão à universalidade do género humano (316):
«Todos os homens são chamados a
fazer parte do povo de Deus. Por isso, permanecendo uno e único, este povo está
destinado a estender-se a todo o mundo e por todos os séculos, para se cumprir
o desígnio da vontade de Deus que, no princípio, criou a natureza humana na
unidade e decidiu enfim reunir na unidade os seus filhos dispersos [...]. Este
carácter de universalidade que adorna o povo de Deus é dom do próprio Senhor.
Graças a tal dom, a Igreja Católica tende a recapitular, eficaz e
perpetuamente, a humanidade inteira, com todos os bens que ela contém, sob
Cristo Cabeça, na unidade do Seu Espírito (317).
CADA UMA DAS IGREJAS PARTICULARES É
«CATÓLICA»
832. «A Igreja de Cristo está
verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais de fiéis que,
unidas aos seus pastores, recebem, também elas, no Novo Testamento, o nome de
Igrejas [...]. Nelas, os fiéis são reunidos pela pregação do Evangelho de
Cristo e é celebrado o mistério da Ceia do Senhor [...]. Nestas comunidades,
ainda que muitas vezes pequenas e pobres ou dispersas, está presente Cristo,
por cujo poder se constitui a Igreja una, santa, católica e apostólica» (318).
833. Entende-se por Igreja particular,
que é em primeiro lugar a diocese (ou «eparquia»), uma comunidade de fiéis
cristãos em comunhão de fé e de sacramentos com o seu bispo, ordenado na
sucessão apostólica (319). Estas Igrejas particulares «são formadas à imagem da
Igreja universal; é nelas e a partir delas que existe a Igreja Católica una e
única» (320).
834. As Igrejas particulares são
plenamente católicas pela comunhão com uma de entre elas: a Igreja Romana, «que
preside à caridade» (321). «Com esta Igreja, mais excelente por causa da sua
origem, deve necessariamente estar de acordo toda a Igreja, isto é, os fiéis de
toda a parte» (322). «Desde que o Verbo Encarnado desceu até nós, todas as
Igrejas cristãs de todo o mundo tiveram e têm a grande Igreja que vive aqui (em
Roma)como única base e fundamento, porque, segundo as próprias promessas do
Salvador, as portas do inferno nunca prevalecerão sobre ela» (323).
835. «A Igreja universal não deve ser
entendida como simples somatório ou, por assim dizer, federação de Igrejas
particulares [...]. Mas é antes a Igreja, universal por vocação e missão, que
lançando raiz numa variedade de terrenos culturais, sociais e humanos, toma em
cada parte do mundo aspectos e formas de expressão diversos» (324). A rica
variedade de normas disciplinares, ritos litúrgicos, patrimónios teológicos e
espirituais, próprios das Igrejas locais, «mostra da forma mais evidente, pela
sua convergência na unidade, a catolicidade da Igreja indivisa» (325).
QUEM PERTENCE À IGREJA CATÓLICA?
836. «Todos os homens são chamados [...]
à unidade católica do povo de Deus; de vários modos a ela pertencem, ou para
ela estão ordenados, tanto os fiéis católicos como os outros que também
acreditam em Cristo e, finalmente, todos os homens sem excepção, que a graça de
Deus chama à salvação» (326):
837. «Estão plenamente incorporados na
sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda
a sua organização e todos os meios de salvação nela instituídos, e que, além
disso, pelos laços da profissão de fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico
e da comunhão, estão unidos no todo visível da Igreja, com Cristo que a dirige
por meio do Sumo Pontífice e dos bispos. Mas a incorporação não garante a
salvação àquele que, por não perseverar na caridade, está no seio da Igreja «de
corpo» mas não «de coração» (327).
838. «Com aqueles que, tendo sido
baptizados, têm o belo nome de cristãos, embora não professem integralmente a
fé ou não guardem a unidade de comunhão com o sucessor de Pedro, a Igreja
sabe-se unida por múltiplas razões» (328). «Aqueles que crêem em Cristo e
receberam validamente o Baptismo encontram-se numa certa comunhão, embora
imperfeita, com a Igreja Católica» (329). Quanto às Igrejas Ortodoxas, esta
comunhão é tão profunda «que bem pouco lhes falta para atingir a plenitude, que
permita uma celebração comum da Eucaristia do Senhor» (330).
A IGREJA E OS NÃO-CRISTÃOS
839. «Aqueles que ainda não receberam o
Evangelho estão também, de uma de ou outra forma, ordenados ao povo de Deus»
(331):
A relação da Igreja com o Povo
Judaico. A Igreja, povo de Deus na nova
Aliança, ao perscrutar o seu próprio mistério, descobre o laço que a une ao
povo judaico (332), «a quem Deus falou primeiro» (333). Ao invés das outras
religiões não cristãs, a fé judaica é já uma resposta à revelação de Deus na
antiga Aliança. É ao povo judaico que «pertencem a adopção filial, a glória, as
alianças, a legislação, o culto, as promessas [...] e os patriarcas; desse povo
Cristo nasceu segundo a carne» (Rm 9, 4-5); porque «os dons e o
chamamento de Deus são irrevogáveis» (Rm 11, 29).
840. Aliás, quando se considera o
futuro, o povo de Deus da Antiga Aliança e o novo povo de Deus tendem para fins
análogos: a esperança da vinda (ou do regresso) do Messias. Mas a esperança é,
dum lado, a do regresso do Messias, morto e ressuscitado, reconhecido como
Senhor e Filho de Deus: do outro, a da vinda no fim dos tempos do Messias,
cujos traços permanecem velados – expectativa acompanhada pelo drama da
ignorância ou do falso conhecimento de Cristo Jesus.
841. Relações da Igreja com os
muçulmanos. «O desígnio de salvação envolve
igualmente os que reconhecem o Criador, entre os quais, em primeiro lugar, os
muçulmanos que declarando guardar a fé de Abraão, connosco adoram o Deus único
e misericordioso que há-de julgar os homens no último dia» (334).
842. A ligação da Igreja com as religiões não cristãs é, antes de mais, a da origem e do fim comuns do género humano:
«De facto, todos os povos formam uma
única comunidade; têm uma origem única, pois Deus fez que toda a raça humana
habitasse à superfície da terra; têm também um único fim último, Deus, cuja
providência, testemunhos de bondade e desígnio de salvação se estendem a todos,
até que os eleitos sejam reunidos na cidade santa» (335).
843. A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, «ainda nas sombras e sob
imagens», do Deus desconhecido mas próximo, pois é Ele quem a todos dá vida,
respiração e todas as coisas e quer que todos os homens se salvem. Assim, a
Igreja considera tudo quanto nas outras religiões pode encontrar-se de bom e
verdadeiro, «como uma preparação evangélica e um dom d'Aquele que ilumina todo
o homem, para que, finalmente, tenha a vida» (336).
844. Mas no seu comportamento religioso,
os homens revelam também limites e erros que desfiguram neles a imagem de Deus:
«Muitas vezes, enganados pelo
Maligno, transviaram-se nos seus raciocínios, trocando a verdade de Deus pela
mentira. Preferindo o serviço da criatura ao do Criador, ou vivendo e morrendo
sem Deus neste mundo, expuseram-se ao desespero final» (337).
845. Foi para reunir de novo todos os
seus filhos, desorientados e dispersos pelo pecado, que o Pai quis reunir toda
a humanidade na Igreja do seu Filho. A Igreja é o lugar onde a humanidade deve
reencontrar a sua unidade e a salvação. Ela é «o mundo reconciliado» (338); é a
nau que «navega segura neste mundo, ao sopro do Espírito Santo, sob a vela
panda da Cruz do Senhor» (339). Segundo uma outra imagem, querida aos Padres da
Igreja, ela é figurada pela arca de Noé, a única que salva do dilúvio (340).
§846 Como entender esta afirmação, com freqüência repetida pelos Padres
da Igreja? Formulada de maneira positiva, ela significa que toda salvação vem
de Cristo-Cabeça por meio da Igreja, que é seu Corpo:
Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, [o Concílio] ensina que esta
Igreja peregrina é necessária para a salvação. O único mediador e caminho da
salvação é Cristo, que se nos torna presente em seu Corpo, que é a
Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do
batismo, ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens
entram pelo Batismo, como que por uma porta. Por isso não podem salvar-se
aqueles que, sabendo que a Igreja católica foi fundada por Deus por meio de
Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar
ou nela perseverar.
§847 Esta afirmação não visa àqueles que, sem culpa, desconhecem Cristo
e sua Igreja:
"Aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e
sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da
graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida por meio do ditame da
consciência podem conseguir a salvação eterna".
§848 "Deus pode, por caminhos dele conhecidos, levar à fé todos os
homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho. Pois 'sem a fé é impossível
agradar-lhe' Mesmo assim, cabe à Igreja o dever e também o direito sagrado de
evangelizar" todos os homens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário