MEUS OITO ANOS
Abreu, Casimiro de (1837-1860), poeta romântico brasileiro
Oh ! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha
infância querida / Que os anos não
trazem mais ! / Que amor, que sonhos, que flores, / Naquelas tardes fagueiras /
À sombra das bananeiras, / Debaixo dos laranjais !
Como são belos os dias / Do despontar da existência ! / – Respira a alma
inocência Como perfumes a flor; / O mar é – lago sereno, / O céu – um manto
azulado, O mundo – um sonho dourado, / A vida – um hino d’amor !
Que auroras, que sol, que vida, / Que noites de melodia / aquela doce
alegria, Naquele ingênuo folgar ! / O céu bordado d’estrelas, / A terra de
aromas cheia, As ondas beijando a areia / E a lua beijando o mar !
Oh ! dias de minha infância ! / Oh ! meu céu de primavera! / Que doce a
vida não era nessa risonha manhã ! / Em vez de mágoas de agora, / Eu tinha
nessas delícias De minha mãe as carícias / E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas, / Eu ia bem satisfeito, / De camisa aberta ao
peito, – Pés descalços, braços nus – / Correndo pelas campinas / À roda das
cachoeiras, Atrás das asas ligeiras / Das borboletas azuis !
Naqueles tempos ditosos / Ia colher as pitangas, / Trepava a tirar as
mangas, Brincava à beira do mar; / Rezava às Ave-Marias, / Achava o céu sempre
lindo, Adormecia sorrindo, / E despertava a cantar !
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