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domingo, 28 de julho de 2013

ANTONIO DA SILVA, o BABICO.



 
Quadro pintado por Gilmar Cunha
ANTONIO DA SILVA, o BABICO

+ 27.7.13

            Um homem calado, mas que falava sozinho porque só foi a maior parte da sua vida. Ou melhor, mais resmungava do que falava. E muitas vezes era tomado por rápidas gargalhadas ... 

            Roupas simples, calça amarrada, barra arregaçada, camisa, paletó, mal abotoados, descalço ou calçado  ...

            Jovem lá do Pantanal ou Anhaia que quando criança até quase jovem brincava com seus amigos e até em futebol da garotada junto com o Dr. Luiz Fernando de Freitas, nosso saudoso médico e tantos outros amigos de infância ...

            De repente algo muda em sua vida e sua mente o trai na doença. E vem para a cidade desvinculado de tudo e de todos, apenas caminhando pela rua 15 como que contando seus passos e num rumo traçado por sua imaginação, sem desviar caminhava, parava, pensava, e continuava ...  nem que viessem veículos que diminuíam a velocidade e até paravam sem reclamar.

            Ainda por um tempo fazia alguns serviços avulsos pesados como descarregar sacos de mercadorias, recolher materiais nas casas, e metodicamente arrumando a carga como bem entendia e percorrendo com o carrinho sempre pelo mesmo caminho ... Não aceitava sugestão! E se fosse contrariado, largava o serviço e ia embora.

            Com o tempo sua reconhecida força física foi diminuindo e sua doença mental estabilizada num grau irreversível, antes manifestada ciclicamente com pequenos momentos de certa lucidez ao que parece perdida para a enfermidade tomar conta dele sem trégua.

            Mesmo assim a sua tarefa cotidiana continuava com suas caminhadas e se tornou conhecido também pelo seu gosto por velhos radinhos de pilha que sempre eram “negociados” em trocas.

            Babico era visto, viveu por muitos anos, oitenta para ser mais preciso, mas precisou ficar doente fisicamente e morrer para ser notado.

            Talvez alguns ainda não saibam que em Morretes tem uma família que o acolheu e o atendeu na medida do possível e do que o próprio Babico permitia: A dona Natalina Araujo e depois seus filhos que o acompanharam até o ultimo momento de vida. E foram eles que prestaram homenagem e mensagem cristã no seu sepultamento. Parabéns à exemplar família evangélica Araujo.

            Nós sabemos por princípio de fé que Babico, devido a sua enfermidade mental tinha assegurada por Deus a sua salvação. Essa mesma fé nos indica que Deus misericordioso recompensou o sofrimento dele acolhendo-o no Céu graças a ação salvifica de Jesus. E não precisamos fazer citações bíblicas nem tentar adivinhar qual seria a religião de Babico para essa afirmação porque para esses sofredores humanos a porta do Céu sempre está aberta incondicionalmente.

            Se alguém quiser arriscar uma pergunta fazendo o papel de advogado do diabo sobre a conduta de Babico, com toda a certeza não encontrará nenhum resquício de maldade em sua vida moldada pelo sofrimento físico e mental, mas quem sabe de conformismo e paz interior.  

            À religiosa família Araujo intrometo-me  dizer que Babico não está mais doente, pois que no Céu as almas são perfeitas assim como perfeitos serão os corpos na ressurreição e hoje, em plena consciência Babico encontrou sua felicidade e conscientemente estará agradecendo a Deus por vocês e Deus lhes dará a devida recompensa pelo ato de caridade.

            Outros pobres e sofredores físicos ainda existem necessitando de nossos gestos de caridade esquecidos por aí, até de seus familiares. Governos, sociedade, igrejas, cada um de nós, façamos a nossa parte de uma maneira mais concreta para não precisarmos no final da existência desses irmãos sofredores simplesmente dizer: “que pena!”

            Como eu acredito no julgamento particular imediato e na intercessão, peço que Babico interceda pelos que sofrem e pelos que o auxiliaram.

Na paz de Cristo

Diac. Narelvi

5 comentários:

  1. Ângelo Itamar de Souza30 de julho de 2013 às 08:20

    Professor parabéns, um belo e preciso texto, e a frase que mais me chamou a atenção foi: "...precisou ficar doente fisicamente e morrer para ser notado." Realmente esta foi a dura realidade do Babico.

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  2. Parabéns Dr. por essa homenagem feita a Babico , e que Deus abençoe muito a Lúcia e seus filhos que o acolheu como um membro da família e ficou com ele até a sua morte. E com certeza Jesus o acolherá no paraíso.

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  3. conheci o básico em 1974, quando fui morar em morretes e trabalhar com josé angeli. foram 10 anos de avistamentos diários desta figura lendária.

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