Amigo Luiz Carlos Nunes
+ 16.09.2014
A vantagem das cidades pequenas, e de boa vizinhança, é você deixar o tempo passar e acompanhar a vida das pessoas que
estão ao seu lado. E o privilegio é maior ainda quando somos contemplados com a
sorte de nascermos quase que ao mesmo tempo e crescendo juntos, alguns com
maiores facilidades outros já com certas dificuldades ... Mas de um jeito ou de outro formamos ramos das
mesmas árvores.
Quantos amigos acabaram se dispersando, tomando
rumos diferentes na vida. Mas quantos de nós nos mantivemos aqui nos
encontrando pelas ruas e calçadas, nos trabalhos, nos clubes, nas escolas, na
Igreja, nos campos esportivos, nos desfiles cívicos, nos encontros políticos,
cada qual se comportando segundo sua formação cultural, profissional, sua constituição
física e desenvolvimento mental, seu
intelecto, suas manias, seus sonhos e ilusões. Afinal, acabamos sendo parecidos
na diversidade.
Quantas e quantas pessoas durante todos esses anos
conhecemos e chamaram a atenção pelo seu jeito de ser. Um deles perdemos ontem,
o Luiz que carinhosamente recebeu um apelido inadequado na infância: “Luiz
Bobo”, porque bobo nunca foi, ao contrário, mesmo sem nunca ter conseguido aprender
ler nem escrever, era esperto, prestativo,
viajante, gostava de estar em atividades, desde adolescente seu prazer era cantarolar musicas do
Teixeirinha fazendo gestos de quem estava a tocar acordeom. Abria e puxava desfiles
escolares com disciplina e marcha firme, incorporava-se à banda Euterpina com
seu bumbo. Quando resolvia, cuidava do trânsito com seu uniforme e apito
incorporando com seriedade a função. Gostava
de se vestir bem e orgulhosamente exibia suas roupas que ganhava. Viajava com
famosos políticos, esteve em boa parte do Brasil, Brasília e outras capitais, e
quando se via frustrado por falta de convite para determinadas viagens, não se entregava e por conta própria chegava
ao destino antes dos outros – e de avião. E como se sentia realizado fazendo o
que mais gostava, agindo como segurança dos prefeitos. Quantas nomeações e promoções para
professores conseguiu agilizar com seus conhecimentos e amizades politicas com governantes
do Estado. Era capaz de localizar e visitar amigos comuns ou parentes nossos onde estivessem.
Meu Deus, quantas coisas fez Luiz desde criança assustando
seus pais com improvisadas viagens sem aviso, como carona. Foi crescendo com suas aventuras sempre amigo e prestativo, nunca desrespeitou
ninguém, era querido por todos, educado e respeitador, e eficiente nas tarefas
a que se propunha fazer.
E como gostava de discursar! Em qualquer lugar, em qualquer evento, era só
deixar uma brecha e lá estava ele de prontidão. Discursou até para Nossa Senhora em novenas
sem jamais esquecer de pedir a ela suas bênçãos e que cobrissem a todos com seu
manto sagrado.
O tempo foi passando, sua enfermidade chegou e foi
reduzindo suas atividades e envelhecendo fisicamente, mas que com humildade e
fé soube superar. Não reclamava pelos anos de cadeira e de cama. Das poucas
vezes que o visitei sempre se lembrava de perguntar das pessoas da minha
família, “tias” conforme costumava chamar, assim como também de outras pessoas
por ele memorizadas. Quietinho em seu quarto ou sala, ouvia no radinho musicas evangélicas como
que deixando-se purificar mais ainda sua alma já santa.
E assim foi passando o tempo até que ontem, Luiz
Carlos Nunes nos deixou. Mas tenham certeza, não nos abandonou porque lá do Céu
sua alma vive e ele continua melhor do que quando aqui estava, a olhar para
cada um dos seus amigos e familiares, e com toda a certeza, encontrando-se com os
que o antecederam e também com aquela
Mulher a quem tanta devoção tinha abrigando-se no seu manto sagrado que ele
sempre citava quando “roubava” uma oportunidade para sua “homilia” à Nossa
Senhora, e com certeza, sendo segurado nas mãos por Jesus.
Luiz Carlos, de físico franzino e pouco
desajeitado, mas de um coração e alma tão grandes que o embelezava por dentro e
por fora, encantando a todos.
E com seu jeito de ser, mesmo no silêncio dos seus
últimos dias, Deus o ouvia e o entendia.
A vida do Luiz dá uma história e exemplo de vida muito
maior. Mas é o que me basta para resumir o que posso oferecer-lhe como homenagem em sua lembrança
aos que ainda estão aqui, e a ele como carinho
e forma de troca de orações entre nós. Um abração Luiz.
Dc
Narelvi
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